O desenvolvimento do modo de produção capitalista. – Parte 03. #Filosofia-Política

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Este texto é continuação da série que estou escrevendo, o segundo texto pode ser lido no seguinte link: O desenvolvimento do modo de produção capitalista. – Parte 02.


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O problema do liberalismo dentro do sistema capitalista é que ele permite uma enorme concentração de renda por parte dos detentores do capital. Nenhum outro modo de produção permite uma concentração de renda como o capitalismo, podemos olhar na história para analisar alguns exemplos, o modo de produção feudal, o escravista, o manufatureiro, dentre outros.
 
Nenhum desses citados e nenhum existente, permitiu tal concentração de capital, atrelando isso ao modelo liberal, junção perfeita, como poderíamos dizer popularmente: é juntar a fome com a vontade de comer. Por outro lado, o modo de produção capitalista também é o que gera o maior crescimento econômico, isso é fato que não pode ser negado.
 
Essa violenta concentração de renda é justamente o que causa desigualdades sociais, pois o trabalhador precisa consumir para sobreviver, automaticamente seu salário voltará de alguma forma aos detentores dos meios de produção, causando assim uma concentração progressiva de renda enquanto o trabalhador fica proporcionalmente mais pobre. Neste ponto vale lembrar da estrutura do edifício de Marx.
 
Na base desse edifício está o proletariado (infraestrutura) e na parte superior os detentores dos meios de produção (burguesia). A base sempre acaba devolvendo ao topo o seu ganho, isso é o que Marx denominava por mais-valia. Vale lembrar que esse conceito já era estudado antes de Marx, o que ele fez foi sistematizá-lo.
 
Sem aprofundar muito, mais-valia nada mais é do que: um valor a mais que é gerado pela classe trabalhadora mas que não fica com ela, vai para a mão da burguesia na forma de lucro. É aquele ditado: quem muito trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro. O grande segredo do modo de produção capitalista para aquisição de renda, é se apropriar do excedente de riqueza gerado pela classe trabalhadora.
 
Em outras palavras, para ficar rico é necessário ser um detentor de algum meio de produção, contratar funcionários, explorá-los e depois ir à mídia dizer que a vida de um bilionário é difícil (como fizeram os herdeiros da BMW dia desses, que provavelmente nunca apertaram um parafuso de nenhum carro ou moto da empresa).
 
Ou seja, se não existir essa diferença não existe lucro e se ela existir gera uma relação de exploração, uso o termo exploração no sentido amplo da palavra e não de forma comum como costuma ser utilizada, você pode receber, por exemplo, um salário de R$ 50.000,00 e gerar um lucro de R$ 51.000,00, isso caracteriza uma relação de exploração.
 
Claro que para os meios de produção capitalista isso é necessário, não sou contra empresários terem lucros em suas transações, inclusive, antes de me tornar professor, fui dono de uma agência de publicidade por mais de 10 anos e claro, a intenção era obter lucro nessa relação de exploração da mão de obra trabalhadora, pois se um patrão paga ao funcionário o valor igual ou superior ao que ele gera, a tendência é falir e se endividar.
 
Aqui fica claro o ódio e desprezo que os liberais e burgueses sentem por Marx, seu pecado não foi cometer algum erro como muitos pregam – a Escola Austríaca por exemplo com seu maior expoente, Von Mises, que basicamente alegava que a liberdade econômica era suporte para a liberdade individual. O pecado de Marx foi demonstrar ao mundo essa relação de exploração entre trabalhador e patrão.
 
Afinal uma coisa que o capitalismo não concebe é ética pois seria até contraditório ou paradoxal no mínimo, ou seja, para termos um capitalismo ético, essa relação teria que ser igual a zero, se essa relação for igual a zero já não é mais capitalismo. Para existir o capitalismo, nessa relação há que existir essa “apropriação indevida” na exploração de mão de obra do proletário. Portanto, capitalismo justo ou equitativo nunca existirá.
 
Olhando novamente para a história, no século XIX essas relações foram piores do que são atualmente, naquela época existia uma exploração bem pior do que a que existe hoje, crianças trabalhavam freneticamente em linhas de montagem sem condição ou tempo para estudar, mulheres grávidas trabalhavam até o parto e logo depois eram demitidas, idosos trabalhavam praticamente até morrer, enfim, era o conceito literal de exploração, quase escravidão.
 
Tudo isso gerou o aumento das desigualdades no Hemisfério Norte, fazendo surgir movimentos trabalhistas, sindicais, comunistas, socialistas e até anarquistas. Até que em 1848, Marx e Engels, no Manifesto Comunista “preveem” a morte do capitalismo. Em parte essa “previsão” foi acertada mas um pouco demorada, pois a grande crise do capitalismo ocorreu em 1929 com a quebra da bolsa de Nova Iorque, lembrando que em 1917 havia ocorrido a Revolução Russa que deveria ter sido um levante do proletário contra o modo de produção capitalista.
 
E é justamente por causa dessa quebra da bolsa de valores que se começa a rever alguns pontos do capitalismo tornando-o menos selvagem, mas como o texto já está extenso, deixarei a continuação para amanhã, abaixo vou deixar os links para as partes já publicadas.
 
PARTE I: O desenvolvimento do modo de produção capitalista – Parte 01.
PARTE II: O desenvolvimento do modo de produção capitalista. – Parte 02.

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O texto é interessante, mas, muito "dentro da caixa". Sugiro as leituras de Mises - "As seis lições", "Cálculo econômico sob o socialismo" e "Ação humana", só como introdução. Abraço!

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@jsantana, li Mises de forma muito superficial, mas entendi que na sua análise acerca do socialismo ele usa como parâmetro regimes que nunca foram socialistas de fato, aliás, coisa que nunca existiu no mundo foi um regime socialista e por diversos motivos, já até escrevi um texto sobre isso se quiser te passo o link.
Em relação ao que vc diz que o texto é "dentro da caixa", vou entender isso como ideológico, e, sim, de fato contém minha ideologia presente neste texto, afinal ninguém neste mundo consegue ser totalmente parcial, o seu comentário por exemplo, também foi "dentro da caixa", de outra caixa que seja, mas também com fundamentação ideológica.

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Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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Boa, @demokratos! É uma assunto que me interessa bastante e já tive as mais diversas opiniões a respeito conforme fui vivenciando o mercado de trabalho. Como empregado, temos uma visão, geralmente, de que somos explorados. Como empreendedores, muda bastante a visão, já que estamos investindo e muitas vezes o funcionário não contribui tanto assim :D Acho que esta visão de Marx se aplica às fábricas e aí temos a exploração de mão-de-obra barata, mas em outros casos temos mão-de-obra qualificada, que recebe uma remuneração diferenciada. A solução que eu vejo seria trabalhar pela qualificação da mão-de-obra para evitar que aceitem qualquer condição de trabalho. Obrigado por compartilhar ;)

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Sim @casagrande, Marx fala do trabalhador no contexto geral mas sua maior preocupação é o operário, dá para entender isso pela parte da história que ele estava inserido, no auge da Revolução Industrial e na fase que talvez tenha sido a mais selvagem do capitalismo, final do séc. 18 e início do 19.
Qualificação de mão de obra, pode ser a solução para o trabalhador talvez, mas para o grande capitalista não, pois muitas vezes a maior parte do seu ganho vem de uma sub-qualificação da sua mão de obra, pois se todos os funcionários fossem qualificados, automaticamente os salários seriam mais elevados, e em alguns tipos de trabalho, o funcionário sem diploma faz da mesma forma que o diplomado.
Mas é um debate que pode rolar vários devaneios e teorias...rsrs

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Ah sim, a realidade das fábricas é bem diferente do capitalismo que dá oportunidade a empreendedores. Por trás dos produtos à venda nas lojas do centro da cidade está o trabalho de milhões de pessoas que vivem em condições deploráveis. Basta verificar a origem dos produtos que compramos e vamos ver de onde vem o lucro das multinacionais.

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Exato @casagrande, a crítica nesse caso não é ao empreendedor, esse entraria no conceito de comércio ou comerciante, a crítica é direcionada aos donos da indústria, esses são os detentores dos meios de produção, o comerciante no caso, é apenas um revendedor daquele produto e se enquadra como um proletário também pois não fabrica nada, apenas compra e revende.
Na maioria das vezes inclusive ainda paga mais impostos que os grandes fabricantes ou donos das indústrias, hoje no Brasil se pegarmos essa quantidade per capita, um pequeno empresário paga mais impostos que um grande empresário e esse peso nem são de tributos trabalhistas, pois isso influencia diretamente em quem tem muitos empregados, quem tem um ou dois em pouco difere, são em sua maioria impostos federais, estaduais e municipais.

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Me esqueci de um detalhe, o empreendedor nesse caso entra nos dois conceitos, é explorador mas também é o explorado.

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Ah sim, faz sentido, porque dependemos de produtos provenientes de mão-de-obra barata para manter o nosso estilo de vida. Então, para a classe média usufruir de tudo que tem, alguém precisa trabalhar em um regime inaceitável para a maioria de nós, obrigado pelo complemento ;)

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Desde já parabenizo por trazer esse tema dentro da sua interpretação, hoje em dia há um ódio de Marx, de muita gente que nem leu. Lembrando que o mesmo foi um teórico como muitos outros, e introduz, como trouxe dentro do contexto de sua época, algo muito a frente do seu tempo, expondo a perversidade do custo humano acima de tudo do capitalismo selvagem. Da mesma forma, lembro de que quando li, o pretexto de sua teoria social fundamentava-se possível somente quando o capitalismo atingisse seu auge de desenvolvimento.

Minha posição é que pode ser o melhor ideal do mundo, mas se não levar em conta a biopsicologia humana, os sujeitos humanos, não será prático. O culto ao dinheiro é mais forte que muitas crenças, e o mundo do prazer (poder) proporcionado pelo mesmo, obscurece muitas almas. As paixões humanas não tem lado.

Existia uma grande crítica ao modelo centralizado no médico, com as reformas e posicionamento ideológico mais a esquerda das últimas décadas, no Rio de Janeiro, os sujeitos psicólogos passaram a orquestrar nas determinações das políticas públicas. A consequência que vejo, gosto de chamar de "humanização desumanizante". É um caos de erros tão quanto dos médicos do passado. A ponto das maiorias dos serviços só terem psicólogos, nem outras profissões como terapia ocupacional, fono, tem espaço. As discussões são pautadas em achismos e pela moral.

Digo isso porquê entendo as posições ideológicas, mas as paixões fazem parte. A exploração faz parte. A desigualdade, aí é uma ganância sem fim. Claro que quis fazer um resumão aqui, daria para abordar de diversas perspectivas e ângulos. Acho que é um assunto muito complexo, e sem uma resposta certa. Mas resumir uma discussão social e econômica, só a parte econômica como fazem os neoliberalismo, ou resumir a obra de Marx a esquerda, e se resumir uma diversidade de ideias a direita e esquerda, fruto na burrice humana.

Como disse a Charlie hoje cedo, é sempre inspirador ver vocês trazendo esses ricos conteúdos à cultura da internet! Bom vê-lo de volta com tudo!

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Marx é um pensador de extrema importância @matheusggr, a própria escola de Frankfurt que costuma ser liberal, mesmo tendo expoentes socialistas como Jürgen Habermas, costuma-se dedicar as primeiras fases dos seus cursos em estudos de autores socialistas, para aí sim, entrarem em suas teorias liberais.
Concordo quando diz que a biopsicologia humana pode estragar as coisas e geralmente, sempre estraga, ainda mais nos dias de hoje onde as pessoas buscam uma forma de transformar tudo em dinheiro ou patrimônio, aliás, antigamente isso já foi feito, não pegaram a ideologia cristã e a transformaram em terras e metais preciosos?
Mesmo sendo ateu admiro a ideologia de Jesus, amar ao próximo, dar o que tens para o outro, a Igreja Católica conseguiu transformar isso em lucro e os evangélicos hoje em dia fazem o mesmo, só falta "tokenizarem" JC e criar a JesusCoin.
Costumo dizer que o ser humano tem patas de elefante pois onde pisa fode com tudo.

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